domingo, 13 de abril de 2014

HOMILIA DOMINGO DE RAMOS

via Blog do Padre Isaque


QUEM SOU EU?

Hoje, quem acordou mais cedo e pôde acompanhar um pouco a homilia do Santo Padre, o Papa Francisco, na Praça da Sé, em Roma, assistia a um homem simples, que com palavra simples mais tocantes discorria sobre o Evangelho da Paixão de Jesus, num discurso que o repórter disse parecer um improviso, de tão simples que era. Olhando no rosto, no semblante daquela multidão imensa na Praça de São Pedro, o Papa se perguntava e ao mesmo tempo respondia.

Quem sou eu?

Uma pergunta que pode se desdobrar em outras tão semelhantes, como: Com quem pareço? De que lado estou? Em que grupo estou?

Eu sou do grupo daqueles que satirizam, galhofam e zombam de idosos, embriagados, homossexuais, negros, índios, como os soldados que satirizam, galhofam e zombam Jesus, depois de tanto humilhá-lo e fazê-lo sofrer com aquela pesada cruz? Eu sou do grupo daquelas mulheres, eu me pareço com elas, que não mais se importando se a violência que levou seu mestre à morte lhes atinja, então, estão ali, firmes, resolutas, acompanhando de perto e mostrando toda a sua solidariedade ao seu Senhor?

Eu sou aquele Sirineu, que mesmo cansado dos meus trabalhos das minhas labutas, ainda encontro forças para ajudar Cristo carregar a Cruz? Ou eu sou Pilatos que com medo de assumir compromissos, responsabilidades no seio da comunidade, às vezes tendo que desgostar alguns sentimentos, prefiro lavar minhas mãos, ser omisso, como se os problemas de fome, de falta de saúde, educação, moradia, trabalhos, vida plena, não é responsabilidade minha, mas tarefa só dos outros, dos governos, por exemplo?

Meus irmãos, às vezes a gente pensa que celebrar este dia, e, não só este dia, mas todo esse tempo litúrgico que começou na quaresma e se estende até a Páscoa, seja tomar nossa liturgia diária, nossa Bíblia, nossos cantos, nosso terço, e viver momentos profundos de piedade e oração.

Mas qual o sentido da nossa Eucaristia, tanto a desse dia como a de todos os dias e tempos, se não se relaciona, se não se impregna, se não se agarra às situações concretas da vida do nosso povo?

Qual o sentido de uma liturgia e de um culto, que se voltam tão somente para dentro do orante, que se escondem nos porões dos seus sentimentos, mas não vêm, tantos jovens, homens, mulheres, partindo todos os dias das nossas cidades para os grandes centros arriscando-se a situações de misérias, escravidões e exclusões?

Na Sagrada Escritura, lemos textos nos quais, nosso Senhor rejeita orações e sacrifícios, quando esses não se deixam carregar de misericórdia e compaixão. E as nossas orações, missas e celebrações se tornam igualmente inócuas, ocas, vazias, e sem sentido se não levam em conta a situação de fome, miséria, e a falta de saneamento básico que castigam tanto nossas cidades. Tornam-se ocas e vazias, se não levam em conta o meio ambiente, escandalosamente explorado, agredido e machucado pelos ditos “grandes” projetos de monocultura de soja e eucalipto.

Está na hora de sairmos do bla, blá, bla, da teoria, do discurso fácil, das orações longas, intimistas, piedosas, mas desencarnadas, que não transformam, não renovam e não convertem para justiça, para a solidariedade e para o amor. Está na hora de propormos, mas que propormos, sermos uma Igreja que como Jesus, silencia diante dos Pilatos de hoje, não por medo ou covardia, mas, porque, não comunga e não concorda com sua tirania, sua covardia e suas maldades. Sermos uma Igreja que seguindo o seu mestre, não veste a roupa do sistema político e econômico, que empobrece, acorrenta e escraviza tantos jovens, tantos homens e mulheres.

Naquele tempo a esponja dada com vinagre servia para estender o tempo de vida do crucificado, não por amor a ele, mas para curtirem mais a sua dor e seu sofrimento. Nessas horas existem muitos crucificados nas nossas periferias das nossas cidades, pela fome, alguns pela miséria extrema, outros pela falta de saúde e educação. É urgente que agora levemos não mais esponjas ensopadas, mas levemos acima de tudo a esperança de que um mundo de justiça, de liberdade e de paz, é possível.

 

 

 

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