Em Roma, até o século V, só se lia a Paixão. Foi no começo do século XII, quando os costumes franco-germânicos penetram a cidade (após sua própria decadência litúrgica), que a procissão dos ramos começou a ser mencionada nos livros romanos. Entenda:
Em Roma, até o século V, só se lia a Paixão. Foi no começo do século XII, quando os costumes franco-germânicos penetram a cidade (após sua própria decadência litúrgica), que a procissão dos ramos começou a ser mencionada nos livros romanos.
No Domingo de Ramos, celebra-se a entrada solene de Jesus em Jerusalém, que marca o começo da Semana Santa e prepara os cristãos para reviver a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Os ramos, abençoados nesse dia, são o sinal da vitória da vida sobre a morte e o pecado. Desde 1984, por iniciativa de João Paulo II, no Domingo de Ramos se comemora também a festa dos jovens, em todas as dioceses do mundo.
O Domingo de Ramos é, simbolicamente, a “porta de entrada” da Semana Santa e, portanto, para chegar à Páscoa. Ainda hoje, como na época de Jesus, a bênção dos ramos atrai as multidões.
Entrada triunfal de Jesus em Jerusalém
Todos os anos, a passagem evangélica da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém dá todo o sentido à bênção dos ramos. Revivem-se os momentos em que a multidão acolhe Jesus na cidade de Davi, “cidade símbolo da humanidade” (João Paulo II), como um rei, como o Messias esperado há séculos. Aclamam Jesus, dizendo: “Bendito é aquele que vem em nome do Senhor” e “Hosana” (em hebraico, este termo significa “Salvai-nos!” e se tornou uma exclamação de triunfo, alegria e confiança).
Jesus é um Rei de paz, humildade e amor. Ele se apresenta à multidão montado em um jumentinho. Zacarias havia anunciado: “Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta” (9, 9).
As pessoas estendiam seus mantos no caminho ou o cobriam com ramos de árvores, como relata Mateus, em seu evangelho (Mt 21, 8).
Ainda hoje, a bênção dos ramos atrai multidões, com um público pouco habitual, seduzido pelos ramos, que podem ser conservados em casa até o ano seguinte.
Símbolo de vida e de ressurreição, os ramos são portadores de bem, mais que de sorte. São colocados nas casas, enfeitam os crucifixos: fazem Jesus ressuscitado entrar nos lares.
Os ramos, segurados para aclamar a cruz de Cristo, são colocados também, às vezes, sobre os túmulos, adquirindo assim mais um significado espiritual. Não se trata somente de honrar a memória de um ente querido, mas também de manifestar a própria esperança, de renovar e fazer florescer a própria fé na ressurreição de Jesus Cristo e, por conseguinte, na ressurreição dos que já partiram.
Normalmente, as paróquias organizam uma procissão após a bênção dos ramos, antes da Missa. Nas grandes cidades, a assembleia pode reunir milhares de pessoas, como em Notre-Dame de Paris, onde o rito da abertura das portas da catedral sempre é impactante. Depois, os fiéis entram na igreja, atrás do sacerdote, manifestando com isso que acompanham Cristo Rei em sua Paixão.
Desde o século IV
Diversos testemunhos revelam que Jerusalém já celebrava, no século IV, a entrada triunfal de Jesus na cidade. Uma peregrina chamada Egéria, que percorreu a Terra Santa em 380, dá testemunho disso em um manuscrito encontrado em 1884. De Jerusalém, a procissão se estende ao mundo inteiro.
Egéria (ou Etéria) descreve a procissão que, do Monte das Oliveiras ao Santo Sepulcro, celebra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém: “E, na hora undécima (17h), lê-se aquela passagem do Evangelho, quando as crianças com ramos e folhas de palmeira saíram ao encontro do Senhor, dizendo: ‘Bendito é aquele que vem em nome do Senhor’. Em seguida, o bispo e todo o povo se levantam e vão, a pé, saindo do alto do Monte das Oliveiras, caminhando com hinos e antífonas, respondendo sempre: ‘Bendito é aquele que vem em nome do Senhor’.”
Em seu testemunho, Egéria insiste na grande participação de crianças na procissão: “Todas as crianças que estão naqueles lugares, inclusive as que não sabem andar ainda dada a sua curta idade, participam sobre os ombros dos seus pais, carregando ramos, algumas com folhas de palmeiras e outras com ramos de oliveiras”.
De Jerusalém, a procissão se estende a todo o Oriente e faz do domingo inaugural da Semana Santa o Domingo de Ramos. Desde o começo do século VII, chega à Hispânia e provavelmente à Gália (certificada no século IX); e depois se desenvolve amplamente em todo o império carolíngio.
Em Roma, até o século V, só se lia a Paixão. Foi no começo do século XII, quando os costumes franco-germânicos penetram a cidade (após sua própria decadência litúrgica), que a procissão dos ramos começou a ser mencionada nos livros romanos.
Antigo e Novo Testamento
A celebração que a Igreja Católica propõe no Domingo de Ramos remete a vários textos do Antigo e do Novo Testamentos, que ajudam o fiel a entrar progressivamente na celebração do mistério pascal de Jesus Cristo.
Durante a Missa, as diversas leituras e o Evangelho da Paixão (sobre os sofrimentos e suplícios que precederam e acompanharam a morte de Cristo) introduzem o fiel na Semana Santa e em suas diversas etapas, até chegar à luz da Páscoa.
Primeiramente, o profeta Isaías mostra que o Servo de Deus aceita os seus sofrimentos: “Apresentei as costas aos que me queriam bater, ofereci o queixo aos que me queriam arrancar a barba e nem desviei o rosto dos insultos e dos escarros. O Senhor Deus é o meu aliado por isso jamais ficarei derrotado, fico de rosto impassível, duro como pedra, porque sei que não vou me sentir um fracassado” (Is 50, 6-7).
Depois, São Paulo explica que Jesus, Cristo e Senhor, de condição divina, não considerou como presa a agarrar o ser igual a Deus, “mas despojou-se, assumindo a forma de escravo (…). Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome” (Fl 2, 6-11).
Entre estas duas leituras, intercala-se o Salmo 22, que o Jesus rezou na cruz e que é uma interrogação profunda sobre o mistério do seu abandono:
Relato da Paixão
Além disso, o relato da Paixão é feito a várias vozes: a voz do sacerdote encarna a pessoa de Jesus, que sabe que seu triunfo provocou a inveja e o furor dos sacerdotes, que decidiram que Ele deveria morrer.
Durante a Última Ceia com os seus discípulos, institui a Eucaristia: faz a oferenda do seu Corpo como “verdadeira comida” e do seu Sangue como “verdadeira bebida” que dão a vida eterna, antecipando, assim, por meio desse gesto, o sentido profundo do seu próximo sacrifício, a morte na cruz: “Tomai, este é o meu Corpo (…). Este é o meu Sangue, o Sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por muitos”, relata o Evangelho de Marcos.
Depois, Jesus leva os seus discípulos ao Monte das Oliveiras e lhes adverte sobre o que suportará. Eles lhe prometem seu apoio incondicional. Mas, no meio da noite, no horto de Getsêmani, Jesus é abandonado por eles, que dormem. Ele lhes havia recomendado, no entanto, que vigiassem e orassem, durante o tempo em que rezava ao seu Pai um poco mais longe, depois de ter-lhes explicado que sua alma estava “triste até o ponto de morrer”.
Então Judas, um dos 12 apóstolos, chega para traí-lo e entregá-lo às autoridades judaicas. Pouco depois, Pedro, atemorizado, nega conhecer Jesus, confirmando o que o Senhor lhe havia anunciado antes: “Em verdade, eu te digo: antes que o galo cante, tu me negarás três vezes”. Julgado rapidamente, Jesus é crucificado pelos romanos.
Depois dos cantos de alegria que o acolheram no Domingo de Ramos, Ele agora ouve gritos e insultos, que o acompanham enquanto, carregando a sua cruz, sai de Jerusalém.
Referências:
Agradecemos ao Irmão Guillaume, OCD, prior do convento de carmelitas de Avon (Província de Paris), pela revisão deste artigo.
Livros:
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