segunda-feira, 23 de maio de 2022

1948, o acidente aéreo que abalou São Luís

 


                                                                                   por EUGES LIMA (historiador, professor e membro efetivo do IHGM)

 


6 de agosto de 1948...Almeida Galhardo estava no seu quarto, pensativo, na república onde morava, no centro de São Luís, compondo mais um de seus sonetos. Seu plano, era em breve, assim que conseguisse recursos financeiros suficientes ou apoio, publicar seu primeiro livro de poemas, alguns já bem conhecidos, como Cruz de Ouro e Gaiovotas, publicados anteriormente em jornais da cidade. Quando de repente, chega uma carta vinda da sua cidade natal - a longínqua e paradisíaca Tutóia - informando que sua mãe, Dona Joaquina, não passava nada bem e teria ido com urgência para a cidade de Parnaíba, no Piauí, em busca de auxilio médico.

Nos anos de 1940, rodovias no Maranhão eram coisas raras e principalmente na região do Baixo Parnaíba, praticamente não existiam, o transporte corrente era o marítimo... Barcos, navios... A maneira mais viável e rápida de ir visitar sua mãe enferma, era pelo ar, Galhardo, então, já naquele momento aviador do estado do Maranhão, pede emprestado ao deputado estadual Januário Figueiredo, seu avião monomotor “Aeronca” P.P. – R.Z.P. Camocim.

8 de agosto...A aeronave não era nova e precisava de revisão, por isso, Galhardo, convida seu amigo e colega de Aeroclube, Betinho Chaves (Alberto Augusto Fontoura Chaves) para juntos revisarem o avião.

16 horas... Após o trabalho de revisão pelos pilotos, já durante à tarde, eles resolvem testá-lo e escolhem sobrevoar o então povoado da Forquilha (hoje, Bairro da Forquilha), então, área rural de São Luís, pois lá residiam algumas garotas conhecidas dos pilotos.

No momento que o avião “Aeronca” P.P. – R.Z.P. Camocim, pilotado por Almeida Galhardo e tendo como copiloto Betinho, sobrevoava o povoado da Forquilha, os pilotos são surpreendidos com uma pane no motor, desestabilizando completamente a aeronave. Mesmo com todas as tentativas da tripulação em recuperar o controle do aparelho, todos os esforços foram inúteis, caindo assim, vertiginosamente a aeronave em parafuso, direto no solo, em meio a uma roça da região. A carcaça do avião ficou completamente danificada.

Após o desastre, o poeta Almeida Galhardo, não resistiu e faleceu na hora com o impacto do avião no solo, no entanto, seu colega Betinho, ainda foi retirado dos  destroços com vida, porém, não resistiu aos ferimentos e morreu ao dar entrada  no pronto socorro.

Quando a noticia do acidente trágico dos dois jovens pilotos se espalhou pela cidade, São Luís foi tomada por uma grande comoção, provocada pela tragédia em si, mas também pela juventude das vitimas. Almeida Galhardo tinha apenas 26 anos, era jornalista, cronista esportivo - entusiasta do futebol maranhense -, poeta em ascensão e piloto de avião. Fazia apenas um ano que tinha recebido o seu brevê.  Já era bem conhecido no meio jornalístico e cultural da cidade, era membro do CCGC (Centro Cultural Gonçalves Dias), uma das mais importantes agremiações literárias da juventude ludovicense desse período.

A comoção foi geral, houve manifestações de pesar de vários poderes, legislativo estadual, municipal e executivo, sendo designados representantes para acompanhar o funeral. As famílias das vitimas receberam condolências formais das autoridades políticas. O velório dos dois amigos se deu na residência de Betinho, na Rua de Santana, n.º 478, próxima a uma fábrica de velas. De lá, saíram em cortejo fúnebre em direção ao Cemitério do Gavião, na Madre Deus, onde estão sepultados. Várias autoridades acompanharam o cortejo, inclusive, o então governador do estado, Sebastião Archer, além de um grande número de amigos e populares. Este ano, no dia dois de dezembro, será comemorado o centenário do poeta Almeida Galhardo, no dizer de Lago Burnett, “o poeta das gaivotas”.

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