sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Mesmo sem ser candidato, Joaquim Barbosa coloca medo em partidos

Imagem: Reprodução/Redes Sociais
A política é cínica sem perder o realismo jamais. Por isso, relativamente, pouco barulho fez o estrondoso resultado de Joaquim Barbosa na última pesquisa Datafolha.
 
Como Barbosa (ainda) não é político, não tem partido, não tem tempo na TV, não tem marqueteiro, não tem base nem doadores, não pode ter sucesso numa eleição como a presidencial, tentam se tranquilizar os políticos tradicionais.
 
Os números até aqui: Barbosa, sem nada disso, ficou em segundo lugar na pesquisa presidencial, com 15%, à frente de Aécio Neves (14%) e Eduardo Campos (9%), que têm tudo isso.
Barbosa tem outras coisas. Encarnou o maior desejo da imensa maioria de brasileiros em relação à política e às políticas públicas: que sejam mais honestas, mais eficientes e mais justas. Foram essas bandeiras, e não o movimento do passe livre, que uniram e impeliram os protestos populares de junho passado, o inverno de nossa esperança.
 
Barbosa é disruptivo, como o desejo dos brasileiros em relação à forma de se fazer política e governar. O fato de ser negro e de origem humilde (nosso eufemismo preferido para pobre) lhe dá ares lulísticos, messiânicos. Ele de pé, capa negra, irascível, determinado, no púlpito maior da Justiça brasileira, mandando para a prisão barões da política é uma imagem digna de João Santana ou Glauber Rocha.
 
Até a maioria dos petistas concorda com ele, mostrou o Datafolha.
 
 
Assim como o surto Celso Russomanno nas eleições municipais de São Paulo sinalizava ano passado, o terreno será cada vez mais fértil a candidaturas de "outsiders" do sistema político. O espetáculo diário de acusações gravíssimas de corrupção contra governos e oposições alimenta um repúdio geral que pode no extremo ameaçar a estabilidade política.
 
Enquanto os avanços econômicos nos últimos 20 anos levaram o país a realizar ao menos parte de seu enorme potencial, sustentando o discurso do novo Brasil, a política permanece bastião do velho Brasil, hoje o maior inibidor do desenvolvimento nacional.
 
As breves passeatas de junho foram a maior ameaça a esse sistema que nos aprisiona. Ele só vai melhorar, se você voltar para a rua.


 
Sérgio Malbergier
 
 
 
Folha de S. Paulo
Editado por Folha Política

Nenhum comentário:

Postar um comentário