Novas mensagens atribuídas a Sergio Moro e integrantes da força-tarefa da "lava jato" em Curitiba reforçam a tese de que o atual ministro da Justiça atuou como juiz investigador e de que as conversas iam além da "normalidade das relações entre magistrados e partes", como ele defendeu em audiência no Senado.
Reportagem da revista Veja em parceria com o site The Intercept Brasil mostra que Moro recebeu pelo celular uma versão inacabada de manifestação do Ministério Público Federal. Conforme as conversas, após ser cobrado pelo ex-juiz, o procurador Deltan Dallagnol enviou a peça ainda sem revisão para que Moro pudesse adiantar a sentença. Na sequência, o magistrado alerta que aquele seria o último dia para protocolar a peça.
Assim como indicam os diálogos divulgados anteriormente, a reportagem mostra que o atual ministro da Justiça chegava até mesmo a dar ordens aos membros do MP, determinando, por exemplo, o dia de operações e quais provas deveriam ser apresentadas e quando.
Com o intuito de manter a operação em Curitiba, Moro pediu que uma planilha com nomes de políticos não fosse apresentada de imediato. Após ser questionado pelo Supremo Tribunal Federal sobre o envolvimento de pessoas com prerrogativa de foro, ele envia as investigações para o ministro Teori Zavascki sem incluir uma planilha em que aparecia o nome de parlamentares, o que levaria o caso para o STF. Em um diálogo entre integrantes da "lava jato", a delegada Erika Marena diz que não protocolou a planilha no sistema a pedido do ex-juiz.
Na primeira leva de mensagens divulgadas pelo Intercept, Moro já aparecia reclamando de um delegado da PF que havia incluído rápido demais todos os elementos da investigação no sistema eletrônico, o que obrigaria o juiz a enviar parte do processo ao Supremo.
Em outro momento, o ex-juiz cobra do Ministério Público uma informação que não constava na peça enviada. Dallagnol então repassa a cobrança à procuradora Laura Tessler, que no dia seguinte acrescenta o documento à denúncia. Minutos após o acréscimo, Moro aceita e denúncia citando em sua decisão o documento adicionado.
Caso Cunha
O ex-juiz também opinou sobre a delação do ex-deputado Eduardo Cunha. Diante dos rumores de que este estaria negociando o acordo, Moro informa a Dallagnol que é contra a iniciativa, sem nem mesmo saber o conteúdo que seria apresentado. "Agradeço se me manter (sic) informado. Sou contra, como sabe", disse Moro, pedindo que fosse avisado do andamento do possível acordo.
Nesta reportagem da Veja e do Intercept, foram analisadas cerca de 650 mil mensagens, que tiveram sua veracidade confirmada. A reportagem diz que tentou encontrar pessoalmente Moro ou Dallagnol, mas que ambos se recusaram. Os dois pediram que os arquivos fossem enviados de forma virtual, mas, alegando compromissos de agenda, recusaram-se a receber a reportagem, uma condição estabelecida pela Veja
Revista Consultor Jurídico, 5 de julho de 2019, 10h33
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