terça-feira, 31 de março de 2020

Nordeste eleva tom em oposição a Bolsonaro, recorre à China e cria comitê científico

Governadores da região acusaram governo federal de omissão diante da crise e anunciaram parcerias com o governo chinês

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O Consórcio Nordeste, que reúne os nove estados da região, divulgou nova carta elevando o tom das críticas ao governo federal e ainda anunciaram parceria com a China, alvo de críticas e teorias conspiratórias disseminadas por familiares do presidente.
Os governadores já haviam divulgado uma carta, em tom mais brando, assim como os secretários estaduais de saúde. Na última semana, Jair Bolsonaro (sem partido0 fez falas públicas criticando a quarentena e atacando as medidas de isolamento social adotadas pelos governos estaduais.
Bolsonaro acredita que, se a sociedade brasileira mantiver sua vida "normal", a economia não será tão prejudicada - apesar de os cientistas e organismos internacionais alertarem que isso trará muito mais mortes.
 No documento mais recente, o Consórcio Nordeste sobe o tom em relação à omissão federal e afirma que "na ausência efetiva de coordenação nacional (...), buscaremos avançar na integração regional e com as demais regiões", aponta o texto.
Os governadores ressaltam ainda que o Congresso Nacional (Câmara e Senado Federal) devem assumir papel decisivo neste momento. Eles também rebateram as falas de Jair Bolsonaro contra o isolamento social, reforçada pela campanha do Governo Federal intitulada "o Brasil não pode parar".
A carta, intitulada A favor da vida, afirma "profunda indignação com a postura do governo federal, que contraria orientação de entidades de reconhecida respeitabilidade, como a OMS".
Sobre as críticas de Jair Bolsonaro aos governadores e prefeitos, a carta é dura.
"Exigimos respeito por parte da Presidência da República, esperando que cessem imediatamente as agressões contra os governadores, assumindo um posicionamento institucional com seriedade sobre medidas preventivas", ressalta.
O documento aponta ainda que a omissão por parte do governo federal em cumprir seu papel de coordenador e a insistência em criar conflitos acaba dificultando a padronização de medidas unitárias nos estados e prejudicando a vida da população.
Os gestores também garantem manter "bom senso e equilíbrio" e seguir "orientados pela ciência e experiência mundial" para que ações preventivas e protetivas tenham intensidade gradual de acordo com cada região do estado.
Os governadores nordestinos anunciaram que buscarão apoio de entidades representantes de médicos, infectologistas e também do Ministério Público para fortalecer politicamente as medidas governamentais, criticadas por Bolsonaro.

Comitê cientifico
Nesta segunda-feira (30) foi oficializado um comitê científico do Consórcio Nordeste para subsidiar os governos estaduais no enfrentamento à pandemia da covid-19.
Integram o grupo médicos, cientistas e pesquisadores, que têm a tarefa de manter reuniões periódicas com seus pares a nível internacional (prioritariamente da Itália, Alemanha e China) para pensar soluções para frear o contágio nos estados nordestinos.
O comitê científico também divulgará boletins com os números da região e orientações para a população. Por enquanto são apenas 13 membros, sendo um indicado por cada um dos nove estados e quatro convidados, entre os quais o neurocientista paulista Miguel Nicolelis e o físico fluminense Sérgio Machado Rezende, ex-ministro da Ciência e Tecnologia.
Negócio da China
Sem confiança no governo federal, diversos governadores - entre os quais os nove estados do Nordeste, por meio do Consórcio - têm solicitado informações à Embaixada da China sobre o enfrentamento ao coronavírus, assim como possibilidades de ajuda material.
Na última sexta-feira (27) o Consórcio Nordeste anunciou a compra de 350 mil testes rápidos para ajudar no mapeamento e controle do coronavírus.
No estado de Pernambuco os testes têm sido produzidos pelo Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen), do governo estadual; e pelo laboratório privado Genomika, através de parceria com o Laboratório de Imunopatologia Keiko Asami (Lika/UFPE).
Nacionalmente, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que no estado tem parceria com a Universidade de Pernambuco (UPE), tem produzido os testes.
População de rua
Para atender a população de rua, o governo de Pernambuco liberou R$1,4 milhão a serem divididos entre os 184 municípios (mais Fernando de Noronha), distribuídos de acordo com o tamanho da população de cada município.
Batizada de Pernambuco Solidário, a campanha do governo estadual ainda pretende abrir a possibilidade de receber doações e mobilizar voluntários nas periferias.
As ações serão coordenadas pela Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, encabeçada pelo presidente estadual do PSB, Sileno Guedes.
O secretário afirma que há 240 mil famílias em situação de pobreza e extrema pobreza no estado. Na região metropolitana serão instalados "pontos de cuidados" para atendimento às pessoas em condições de rua, além de uma parceria com a Central Única das Favelas (Cufa) com mobilizadores sociais em periferias do estado.

Fonte: BdF Pernambuco



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