O papa Francisco demonstrou nesta
quinta-feira empenho em fazer pressão contra uma intervenção militar na Síria,
ao enviar uma carta endereçada ao presidente russo, Vladimir Putin, e convocar
os embaixadores do mundo inteiro.
Em sua carta dirigida a Putin em sua qualidade de presidente do G20,
que se reúne nesta quinta e sexta-feira em São Petersburgo, o Papa fala da
situação econômica e social no mundo, condena as "matanças inúteis"
no Oriente Médio e faz um chamado contra qualquer tipo de solução armada na
Síria, segundo indicou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.
"Aos dirigentes presentes, a cada um de vocês,
faço um apelo do fundo do meu coração para que ajudem a encontrar o caminho
para superar as posições de conflito e para que abandonem o vão afã de uma
solução militar", afirmou o Papa em sua carta.
"É necessário um compromisso renovado para buscar, com coragem e
determinação, uma solução pacífica através do diálogo e da negociação entre as
partes, apoiado unanimemente pela comunidade internacional", acrescenta o
texto.
Ainda nesta quinta, o "ministro das Relações Exteriores" do
papa, o francês Dominique Mamberti, junto com altos dirigentes da Secretaria de
Estado ("governo vaticano"), reuniu-se com 71 embaixadores creditados
na Santa Sé para transmitir a determinação do Vaticano em se opor a uma ação
armada na Síria.
Os Estados Unidos e a França querem uma ação limitada em represália
pelo suposto uso de armas químicas por parte do regime do presidente Bashar
al-Assad.
O antecessor do papa, Bento 16, também escreveu algumas cartas aos
presidentes das grandes cúpulas mundiais, mas esta ofensiva de Francisco só é
comparável à de João Paulo 2o e seu "não categórico" à intervenção no
Iraque em 2003.
Com as consequências da longa guerra do Iraque em mente, o Vaticano e o
papa estão mobilizando todos os meios possíveis, inclusive as redes sociais,
para que católicos, fieis de outras religiões e não-crentes do mundo todo
participem no próximo sábado de uma jornada de jejum e oração pela paz na
Síria.
O papa presidirá pessoalmente esse dia de vigília ficando quatro horas
na Praça de São Pedro. "Com o papa Jospeh Ratzinger [Bento 16], o Vaticano
desapareceu do cenário internacional e isso foi visto nos telegramas revelados
pelo site Wikileaks. Mas, com Francisco, a política externa voltou à Santa
Sé", afirmou à AFP o vaticanista Marco Politi.
Além disso, a campanha contra o ataque na Síria acontece no décimo
aniversário do que Politi classifica de "vitória moral" de João Paulo
II contra George W.Bush, que não conseguiu, no entanto, impedir a guerra no
Iraque. A ofensiva diplomática também coincide com a nomeação recente de Pietro
Parolin como novo secretário de Estado, o número dois do Vaticano.
A influente comunidade de Sant'Egidio, favorável à mediação no conflito
sírio, também pediu ao G20 que favoreça as conversações de paz.
O apelo do Papa obteve até agora inúmeros apoios de personalidades
religiosas, que advertem para o perigo de uma guerra generalizada, rejeitam um
ataque limitado e questionam a intenção dos Estados Unidos e da França de
intervir sem o aval da ONU.
O apelo teve inclusive o apoio de igrejas orientais e de outras
religiões. Segundo a agência vaticana Fides, o grande mufti da Síria, Ahmad
Badredin Hasu, líder espiritual do islã sunita no país, quer estar presente na
praça de São Pedro para a vigília de sábado.
Por sua parte, os conselhos pontifícios (órgãos do Vaticano) para o
diálogo interreligioso, para as relações com os judeus e pela unidade dos
cristãos afirmaram, em um comunicado conjunto, que a paz é um bem que é preciso
defender e deram as boas-vindas a "todos os que quiserem responder ao
convite do papa para viver momentos de oração, jejum e reflexão".
Fonte: Yahoo notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário