sexta-feira, 4 de julho de 2014

Senadores vibraram na conquista da primeira Copa


Ricardo Westin (Jornal do Senado)


Na final da Copa da Suécia, em 1958, entre brasileiros e suecos, o protagonista foi um jogador novato. Pelé tinha só 17 anos e nunca havia viajado para o exterior. Ele foi autor de dois gols, incluindo o derradeiro do Mundial. No finzinho do jogo, ao ver que sua cabeçada havia levado a bola à rede, não resistiu à emoção e tombou desfalecido. Pelé acordou pouco depois, campeão, e se derramou em lágrimas. Naquele 29 de junho de 1958, o placar terminou em 5 a 2, uma goleada dos brasileiros.
Acompanhando tudo pelo rádio — a TV não tinha tecnologia para transmitir a Copa ao vivo —, os brasileiros viveram a mesma emoção de Pelé. Foi um domingo de delírio no país. A taça do mundo era finalmente nossa. Com o primeiro título, sepultavam-se o fiasco de 1954 (eliminação nas quartas de final) e principalmente o de 1950 (derrota no Maracanã).
O Senado se deixou contagiar pelas comemorações. Nos dias que se seguiram, não houve senador que usasse o microfone da tribuna sem fazer referência à vitória. Kerginaldo Cavalcanti (PSP-RN) disse que o domingo havia sido “um grande dia para todos os corações brasileiros”:
— Depois de tantos anos, de tantos esforços, vimos afinal coroados de êxito os nossos propósitos. Conseguimos um triunfo deveras notável. Essa vitória testemunhou as qualidades inexcedíveis de nossa raça.
O senador Alencastro Guimarães (PTB-DF) se derramou em elogios à Seleção. Na avaliação dele, Pelé, Garrincha, Zagallo e companhia portaram-se em todas as partidas com “elegância, correção e disciplina”.
— Devemos gratidão a esses rapazes, que elevaram bem alto o nome e a bandeira do Brasil — afirmou.
Nas palavras de Neves da Rocha (PTB-BA), os “valorosos patrícios” fizeram a Europa “curvar-se ante o Brasil”.
Os discursos de 1958 estão guardados no Arquivo do Senado, em Brasília. Os documentos são mantidos em salas com controle de umidade e temperatura para impedir a proliferação de fungos que danificam papéis antigos. Na época em que os discursos foram proferidos, o Senado funcionava no Palácio Monroe, no Rio. A transferência da capital para Brasília se daria em 1960.
'Heróis de Estocolmo'
Quatro dias após a vitória, a delegação brasileira foi recebida com festa no Aeroporto do Galeão e desfilou em carro aberto pelo Rio. Bellini, o capitão da Seleção, exibia a Taça Jules Rimet. Milhares de cariocas aplaudiram os jogadores. Na tribuna do Senado, Ezechias da Rocha (PR-AL) descreveu como “apoteótica” a recepção aos “heróis de Estocolmo”:
— A história da cidade nunca havia registrado uma manifestação popular de tais proporções, de tanta alegria e entusiasmo, de tanta efusão patriótica. Delirou a alma da nação.
O senador Gilberto Marinho (PSD-DF) disse que os cariocas deram as boas-vindas aos campeões “em nome dos 60 milhões de brasileiros espalhados por todos os recantos do país”. De acordo com ele, a partir daquele momento, o futebol brasileiro nunca mais seria o mesmo:
— Nos campos da Europa, esses jovens patrícios fizeram a afirmação de nossa maioridade esportiva.
Na avaliação do senador Gomes de Oliveira (PTB-SC), aquela vitória também precisaria ser vista “sob o aspecto da propaganda”, pois atraiu os olhos de todo o mundo para o Brasil. Ele afirmou que o futebol é importante por ensinar a disciplina e o esforço coletivo, mas fez uma ressalva:
— O futebol, o mais popular dos esportes nacionais, não será, decerto, em si, o mais conveniente à educação física.
Hoje, 56 anos depois, uma afirmação assim provocaria, no mínimo, estranhamento. Naquele tempo, ao contrário, soava perfeitamente natural. Segundo o jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, autor do livro Feliz 1958 — o ano que não devia terminar (Editora Record), o futebol era visto com preconceito:
— Era tido como um esporte de negros, de pobres. Dizia-se que o Brasil havia perdido a Copa de 1950 porque a base da Seleção eram jogadores negros que haviam se acovardado na final. Havia o boato de que Bigode [brasileiro], que era negro, havia levado uma bofetada de Obdulio Varela [uruguaio] sem revidar, no jogo decisivo, o que teria abalado a equipe. É tudo mentira, coisa do preconceito. Na realidade, a vitalidade do futebol brasileiro se deve justamente aos jogadores negros.
Agência Senado

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