Por Euges Lima (historiador)
Euges Lima ( historiador) |
Padre
Jocy, tinha em sua posse, uma carta, que relatava essa inusitada história,
provavelmente herdada do espólio do seu avô. Em 1909, Paulino Neves, recebera uma
inesperada e intrigante correspondência vinda da Espanha, cujo remetente era o
espanhol Ernesto Rivera, o qual o
prócer tutoiense nunca ouvira falar, no entanto, Rivera teve boas referências
do Coronel Paulino: “as boas informações que tenho de V. Exa., as quais me
foram dadas por um Sr. quando eu estive em esse país.”
Na carta, Rivera relata que foi Capitão e
Tesoureiro d’Arma da Cavalaria de Guarnição daquela Praça e que participou de
uma conspiração para derrubar a monarquia espanhola e que teria desertado com
900.000 francos em notas do Branco da França e Inglaterra que estavam sob seu
poder com a finalidade de comprar armas e equipamentos bélicos no estrangeiro
para promover a revolta militar que derrubaria a monarquia e implantaria a
República em toda a Espanha.
Acontece
que quando Ernesto Rivera se encontrava na fronteira da França à espera de
instruções, recebe a notícia que o plano do levante havia sido descoberto e que
alguns dos seus companheiros tinham sido presos e outros, fugidos para o
exterior. Imediatamente, decide fugir para América do Sul com a fortuna que
trazia. Primeiro, desembarca na Venezuela, não gosta do ambiente do país, então
resolve ir para o Brasil. Depois de visitar vários estados e comarcas, chega ao
litoral oriental do Maranhão, na longínqua e pacata Tutóia, localizada no Delta
do Paranaíba, ali, diante da necessidade de retornar para Espanha para socorrer
sua única filha que estava doente em um Colégio interno na Cidade de Toledo, o
militar espanhol, deixa “enterrados dentro de uma pequena caixa de folhas de
lata, nos arrabaldes d’essa localidade” 900.000 mil francos que havia furtado
de sua guarnição na Espanha.
Paulino Neves (fundador de Tutóia)
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Como
pai, Rivera não poderia abandonar sua filha naquelas condições, ao mesmo tempo
em que não poderia retornar com aquela quantia em seu poder, diante de tal
impasse, descreve o que melhor lhe pareceu fazer:
“Meti 900.000 francos dentro da dita caixa em os arrabaldes d’essa
localidade; procurei um lugar rasinho, separadamente, e sem que ninguém me
olhava, nem observava, fiz um buraco na terra, de meio metro de profundidade, e
aí sepultei a caixa, com o dinheiro; no mesmo instante, fiz uma pauta tipográfica(croquis)
fixa e exata do lugar onde sepultei a caixa; a esta pauta, junta com uma fita
métrica que me servi d’ela para recolher as medidas e dimensões do terreno,
assim como uma folha explicativa, aonde anotei todos os apontamentos; todas
estas peças as ocultei num segredo que tem a minha mala de viagem n’um segredo
que ninguém conhece, mais que eu e a minha filha.”
O
Plano do Capitão era retorna à Espanha e trazer sua filha para o Brasil, onde
ela poderia se recuperar e viver em paz com ele. Porém, tudo deu errado, e ele
foi preso ao chegar na Espanha, sendo condenado pelo Conselho de Guerra
espanhol a dez anos de prisão e a pagar as custas do processo. É nesse cenário
que Ernesto Rivera vislumbra solicitar a ajuda de Paulino Neves como a única
forma de resgatar o tesouro que ela havia deixado enterrado nas areias brancas
de Tutóia, se não para ele se beneficiar, já que se encontrava preso e
condenado, mas pelo menos para segurança e felicidade de sua filha, a jovem
Hilda de 18 anos. Para isso, oferece a metade da quantia enterrada a Paulino
Neves como recompensa, mas não sem antes elencar uma série de condições e
instruções detalhadas que deveriam ser seguidas pelo Coronel:
“1.ª - V. Exa. Terá que ser
fiel e honesto com minha filha, e não divulgar este assunto;
2.ª - V. Exa., ou outra
pessoa de maior confiança, tem que vir à Europa, para acompanhar a minha filha
até o Brasil, porque eu quero sendo sagrada condição que minha filha há d’ir
com V. Exa., a ajudar-lhe a descobrir a dita caixa; eu confio que V. Exa. Há –
de comportar-se com ela, como um homem d’honra, e como um segundo pai;
3.ª - Pelo pronto, tem que V. Exa., pagar as despesas de viagem de
minha filha, porque eu acho-me sem dinheiro, devido à minha pobre e triste
situação, os meus amigos abandonaram-me, e os meus correligionários, uns
acham-se presos, e outros, emigrados;
4.ª – Também tem que pagar V. Exa. “6.250 pesetas, ouro (1.250),
que é necessário pagar para levantar a minha mala de viagem do depósito onde se
acha depositada, por dívida d’uma quantia.”
Como
vimos acima, nas instruções e condições imposta por Rivera, o plano era Paulino
Neves bancar sua viagem até Portugal, o que representaria um custo no valor de um
conto e seiscentos mil reis. Quando desembarcasse em Lisboa, do Hotel que
estivesse hospedado, deveria escrever para Ernesto Rivera informando seu
endereço, então, Rivera responderia informando o Hotel onde poderia encontrar
sua filha para juntos resgatarem a tal mala que se encontrava em um desses
armários que se alugam em terminais de transportes, pois nela, encontravam-se
todas as peças imprescindíveis para localização precisa do tesouro enterrado em
Tutoia, como pauta topográfica, fita métrica e a folha explicativa, mas antes,
Paulino Neves deveria mais uma vez meter a mão bolso no valor de 6.250 pesetas
para pagar o resgate da mala e retornar ao Brasil com Hilda, pagando também
todas as despesas com passagens de navio no retorno ao Brasil.
Depois
que concluiu todas suas instruções o Capitão Rivera solicita que caso o Coronel
Paulino Neves concorde com suas condições, envie uma “pronta resposta, para o
endereço seguinte: Sr. Adolfo G. R.
Ramirez, Cale de Ayal, n.º 16/2.º, Madri (Hespanha)[...] e com a esperança de
receber pronto a notícia de seu aviso à
Lisboa.” Finaliza a carta com cumprimentos honrosos e respeitosos, datando de
Madri em 19 de agosto de 1909. A pergunta que fica é, teria o Coronel Paulino
Neves atendido aos seus apelos e respondido a essa curiosa correspondência?
Teria ainda Paulino Neves feito essa fantástica aventura para Lisboa?
Certamente não, talvez o Coronel tenha desanimado diante de tantas condições,
despesas e aventuras necessárias para tal feito e Ernesto Rivera esperou uma
resposta favorável que nunca foi.
Por Euges Lima (historiador)
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