Grupo entrou em conflito com seguranças do Palácio do Planalto e a fechou o trânsito em vários trechos da Esplanada dos Ministérios.
Depois de cercarem o Palácio do Planalto, em Brasília, na manhã de
hoje (4), cerca de 1,2 mil índios de várias etnias estão neste momento
divididos em manifestações no Congresso Nacional e diante do Ministério
da Justiça. O grupo protesta contra o que classifica como mais uma
iniciativa do governo federal para inviabilizar a demarcação de terras
indígenas. A presidenta Dilma Rousseff não estava no local.
Durante o protesto, os índios chegaram a entrar em conflito com
seguranças do Palácio do Planalto e a fechar o trânsito em vários
trechos da Esplanada dos Ministérios.
O estopim da manifestação foi a minuta
(esboço) de uma portaria que, segundo as lideranças indígenas, o
Ministério da Justiça está produzindo. Representantes do movimento dizem
ter tido acesso à cópia do documento no último final de semana. Segundo
Sônia Guajajara, uma das coordenadoras da Articulação dos Povos
Indígenas do Brasil (Apib), o texto estabelece mudanças nos
procedimentos legais necessários ao reconhecimento e à demarcação de
terras indígenas.
A proposta, ainda segundo Sônia, visa a oficializar a proposta do
governo federal de que outros órgãos de governo além da Fundação
Nacional do Índio (Funai) sejam consultados sobre os processos
demarcatórios em curso. A proposta foi apresentada pela ministra da Casa
Civil, Gleisi Hoffmann, ainda no primeiro semestre deste ano, com a
justificativa de minimizar conflitos entre índios e produtores rurais.
‘A gente entende que a minuta servirá só para dificultar ainda mais o
processo de identificação e demarcação de terras. O governo federal e o
Congresso Nacional estão aliados para atacar e diminuir os direitos
indígenas, principalmente os territoriais, favorecendo o agronegócio e o
latifúndio’, disse Sônia Guajajara à Agência Brasil, adiantando que o
grupo quer ouvir o ministro José Eduardo Cardozo sobre o assunto.
‘Há um momento em que as autoridades, e o ministro da Justiça,
principalmente, têm que se posicionar e atuar para que os direitos sejam
cumpridos, para implementar o que já é garantido constitucionalmente, e
não adiar ainda mais isso. O efeito da demora na demarcação de novas
terras indígenas é tensionar ainda mais a situação. O governo e o
ministro pensam que estão mediando, apaziguando as tensões, mas os
conflitos só vêm aumentando’, acrescentou Sônia.
Ao perceber a chegada dos índios, seguranças fecharam todas as portas
de acesso ao Palácio do Planalto. Os índios rodearam o edifício e
tentaram passar pela entrada lateral. Fazendo barulho e carregando
faixas com pedidos de ‘demarcação de terra urgente’, alguns
manifestantes forçaram a passagem, entrando em confronto com a
segurança. Alguns seguranças chegaram a usar spray de pimenta para
dispersar o grupo.
Após cerca de meia hora no local, parte do grupo seguiu para o
Congresso Nacional. Outra parte se reuniu diante do Ministério da
Justiça, impedindo o acesso dos servidores que chegavam. Policiais
militares reforçam a segurança do local. Representantes do ministério
estão negociando com os líderes do protesto. Segundo a assessoria do
ministro José Eduardo Cardozo, ele pretende receber uma delegação
indígena para discutir o tema.
Além de criticar a minuta, os índios também cobram a apuração de
crimes contra os povos indígenas, como o assassinato do cacique Ambrósio
Vilhalba, da Aldeia Guarani-Kaiowá Guyraroká, em Cristalina (MS).
Vilhalba foi encontrado morto segunda-feira (2). A Polícia Civil deteve
dois suspeitos e investiga se a morte foi consequência de rixas entre o
cacique e outras lideranças da aldeia.
‘O governo deve deixar de promessas e cumprir o que prometeu para
nós. Hoje você vê o povo indígena lá em Mato Grosso do Sul sendo
assassinado por fazendeiros, por grandes pecuaristas, que querem tomar a
terra do índio. Queremos demarcação de terras urgente. Não dá mais para
aguentar. Também queremos direito à saúde e à educação. E respeito ao
povo indígena’, disse o índio kinikinau, de
Mato Grosso do Sul, Nicolau
Flores.
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